Por Julio Dorneles
A verdadeira, a mais profunda
ESPIRITUALIDADE
consiste em sentir-nos parte integrante deste
MARAVILHOSO E MISTERIOSO PROCESSO
que caracteriza
GAIA
nosso planeta vivo: a
FANTÁSTICA SINFONIA DA EVOLUÇÃO ORGÂNICA
que nos deu origem
junto com milhões de outras espécies.
É sentir-nos responsáveis pela sua continuação e desdobramento
Prof. José Antônio Lutzenberger
(agrônomo e ecologista brasileiro,
Porto Alegre, 1926-2002)
Na natureza nada é contingente, mas todas as coisas são determinadas pela necessidade da natureza divina de existir e agir de uma certa maneira.
"In nature there is nothing contingent, but all things are determined from the necessity of the divine nature to exist and act in a certain manner."
Baruch Spinoza (filósofo, 1632, Amsterdã-1677, Haia)
É difícil dizer com exatidão quando teve início essa relação complexa e conflituosa entre o ser humano e o meio ambiente na Bacia do Sinos. O que é certo é que essa relação se tornou mais crítica a partir da chegada dos primeiros povoadores portugueses, açorianos, num primeiro momento, e demais colonizadores europeus de diversas etnias. Esse processo se aprofundou ao longo do século XIX com uma crença quase que cega em relação ao “progresso”. Entendendo-se por “progresso” um processo de expansão sem limites ou fronteiras de todas as atividades humanas, em especial da agricultura, do comércio e da indústria, esta última como o carro-chefe e locomotiva da história. Nessa visão de progresso, o comércio, as artes, os ofícios e a indústria, assim como na Europa, não vinham por estradas (aqui praticamente inexistentes), mas pelos rios, e, em nosso caso pelo sistema Lagoa dos Patos-Lago Guaíba-Rio dos Sinos-Rio Caí-Rio Gravataí e Rio Jacuí.
Símbolo emblemático dessa histórica foi a chegada dos primeiros 39 imigrantes alemães ao Brasil, que chegaram a São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Esses alcançaram seu destino na América através das águas do Oceano Atlântico, passando pelo Rio de Janeiro, e de lá para Porto Alegre e seu destino, após longa jornada, pelas águas do Rio dos Sinos até o ponto onde atualmente existe o Monumento ao Imigrante (Praça de mesmo nome, no centro de São Leopoldo). Os imigrantes europeus em geral, não somente os alemães, vieram para ocupar e povoar o território rio-grandense, seguindo o princípio que somente reconhecia a soberania sobre territórios efetivamente ocupados. O Império do Brasil estava sob a regência de uma família descendente direta da Casa de Bragança, que, por sua vez, tinha laços de parentesco com as Casas de Habsburgo e de Bourbon, o que incluía boa parte das populações europeias mais pobres na condição de mão de obra adequada à tarefa de ocupar e povoar de forma produtiva os territórios na fronteira meridional do “gigante” Brasil. Lembrando que por todo o século 19 não foram poucos os conflitos internos e externos (especialmente com os “vizinhos” do Rio da Prata) que acabaram por envolver direta ou indiretamente os imigrantes que aqui chegavam.
Um dos descendentes desses primeiros imigrantes, Henrique Luiz Roessler, fundou em 1º de janeiro de 1955 a União Protetora da Natureza – UPN, a primeira entidade ecológica do Brasil, sendo considerado por isso o pioneiro do movimento ambientalista no Brasil e um dos primeiros brasileiros a introduzir o conceito de proteção ambiental, alertando para a necessidade de preservação das matas, indispensáveis a conservação dos recursos hídricos, dos arroios, dos rios. Roessler enfrentou madeireiras irregulares, caça predatória, pesca com uso de explosivos e agricultores incendiários, isso em uma época em que pouquíssimos brasileiros tinham consciência dos danos causados à Natureza mediante essas ações que eram consideradas "naturais” e necessárias para o avanço do progresso e para o desenvolvimento do país. Passadas décadas, as concepções pioneiras de ocupação, povoamento, progresso, preservação e proteção ambiental são trabalhas por milhares de agentes socioambientais reunidos e integrados em redes de coletivos educadores por toda a Bacia do Rio dos Sinos.
Bibliografia de referência:
BRASIL. Programa Nacional de Formação de Educadores Ambientais – por um Brasil educado e educando ambientalmente para a sustentabilidade. Brasília: MMA: Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental, 2006.
FIGUEIREDO, João B. A. Educação Ambiental Dialógica: As Contribuições de Paulo Freire e a Cultura Sertaneja Nordestina. Fortaleza: Edições UFC, 2007.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GADOTTI, Moacir. Encontros e Caminhos: Formação de Educadoras(es) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, 2005.
HOBSBAWM, Eric J. A Era do Capital (1848-1875). Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1995.
NIVEAU, Maurice. “As conseqüências sociais da industrialização”. In: História dos Fatos Econômicos Contemporâneos.São Paulo : Difel, 1986.
LOUREIRO, Carlos Frederico B.; LEROY, Jean-Pierre. Pensamento Complexo, Dialética e Educação Ambiental. São Paulo: Cortez, 2006.
Julio Dorneles é educador e téologo, professor de história com especialização em administração pública e diretor executivo do Pró-Sinos na gestão de seu presidente (2011-2012), o prefeito municipal de São Leopoldo (RS), Ary José Vanazzi.
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